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Cada mirada estrena el mundo

domingo, mayo 30, 2004

Pez en la oscuridad
brillas
refulges un coletazo
y vuelves
del agua a la red
habré de recordarte siempre
habré de recordarte
cuando vuelvas al mar
cuando vuelva a amar

Y en portugués:

Peixe no escuro
brilhas
lampejas um soco de cauda
e voltas
da água à rede
lembrar-te-ei sempre
lembrar-te-ei
quando voltares ao mar
quando voltar a amar


Ricardo Yáñez

jueves, mayo 27, 2004

DISCIPLINA SECRETA

La casa como barco
en alta mar de junio.

Las calles como trenes
de noche sosegada.

Estas cosas no pasan en el mundo.

Estoy por afirmar
que ahora vivo en un libro de poemas.

Pero si tú me miras,
decidida a existir
desde el fondo templado de tus ojos,
también existe el mundo.

Y muy probablemente
yo acabaré por existir contigo.

Luis García Montero

martes, mayo 25, 2004

Ni una vez puede uno, dijo Cratilo, discípulo de
Heráclito,
ni una vez tan siquiera bañarse en el mismo río, que en
menos de un instante
es otro y otro y otro, mientras también deviene
innúmeras personas el que creer percibir que es uno que
se baña.

Ricardo Yáñez

lunes, mayo 24, 2004

Cada ojo
lleva una mirada arrepentida,
un paisaje sin piernas
y una imagen posible
de lo que nunca mirará.

Julio Coronel

viernes, mayo 21, 2004

Legenda

Como quem sente

na legenda do presente

o fim duma história breve,

vou vivendo um sonho intacto

num pesadelo crescente

uma luz fecunda e leve

nos olhos pardos dum gato.

Fernanda Botelho



miércoles, mayo 19, 2004

Necesito un mundo plano
para asomarme a su límite.
Balancear mi cuerpo
rozando el desastre.
Escupir mi historia de retales,
y regresar con otros ojos.

Lola Pandelet

lunes, mayo 17, 2004

Nuit du Coeur

Otoño en el azul de un muro: sé amparo de las pequeñas muertas.

Cada noche, en la duración de un grito, viene una sombra nueva. A solas danza la misteriosa autónoma. Comparto su miedo de animal muy joven en la primera noche de las cacerías.

Alejandra Pizarnik

domingo, mayo 16, 2004

Se cada dia cai
Dentro de cada noite,
Há um poço
Onde a claridade esta presa.
Há que sentar-se na beira
Do poço da sombra
E pescar luz caida.
Com paciência

Pablo Neruda

viernes, mayo 14, 2004

Solombra:

Eu sou essa pessoa a quem o vento chama,
a que não se recusa a esse final convite,
em máquinas de adeus, sem tentação de volta.

Todo horizonte é um vasto sopro de incerteza:
Eu sou essa pessoa a quem o vento leva:
já de horizontes libertada, mas sozinha.

Se a Beleza sonhada é maior que a vivente,
dizei-me: não quereis ou não sabeis ser sonho ?
Eu sou essa pessoa a quem o vento rasga.

Pelos mundos do vento em meus cílios guardadas
vão as medidas que separam os abraços.
Eu sou essa pessoa a quem o vento ensina:

"Agora és livre, se ainda recordas"

Cecilia Meireles

jueves, mayo 13, 2004

Hay tantos días en los que la vida se detiene, frena y
se sienta
y espera como un tren en las vías.
Paso por ese hotel a las ocho
y a las cinco; hay gatos en los callejones
y botellas y mendigos,
y levanto los ojos hacia la ventana y pienso,
ya no sé dónde estás,
y sigo andando y me pregunto adónde
va la vida
cuando se detiene.

CharlesBukowski

lunes, mayo 10, 2004

Vendaval

Ó vento do norte, tão fundo e tão frio,
Não achas, soprando por tanta solidão,
Deserto, penhasco, coval mais vazio
Que o meu coração!

Indômita praia, que a raiva do oceano
Faz louco lugar, caverna sem fim,
Não são tão deixados do alegre e do humano
Como a alma que há em mim!

Mas dura planície, praia atra em fereza,
Só têm a tristeza que a gente lhes vê;
E nisto que em mim é vácuo e tristeza
É o visto o que vê.

Ah, mágoa de ter consciência da vida!
Tu, vento do norte, teimoso, iracundo,
Que rasgas os robles - teu pulso divida
Minh'alma do mundo!

Ah, se, como levas as folhas e a areia,
A alma que tenho pudesses levar -
Fosse pr'onde fosse, pra longe da idéia
De eu ter que pensar!

Abismo da noite, da chuva, do vento,
Mar torvo do caos que parece volver -
Porque é que não entras no meu pensamento
Para ele morrer?

Horror de ser sempre com vida a consciência!
Horror de sentir a alma sempre a pensar!
Arranca-me, ó vento; do chão da existência,
De ser um lugar!

E, pela alta noite que fazes mais escura,
Pelo caos furioso que crias no mundo,
Dissolve em areia esta minha amargura,
Meu tédio profundo.

E contra as vidraças dos que há que têm lares,
Telhados daqueles que têm razão,
Atira, já pária desfeito dos ares,
O meu coração!

Meu coração triste, meu coração ermo,
Tornado a substância dispersa e negada
Do vento sem forma, da noite sem termo,
Do abismo e do nada!


Fernando Pessoa

domingo, mayo 09, 2004

No ponto onde o silêncio e a solidão
Se cruzam com a noite e com o frio,
Esperei como quem espera em vão,
Tão nítido e preciso era o vazio.

Sophia de Mello Breyner

viernes, mayo 07, 2004

Versos gnómicos

" Te vi crecer como un árbol, eternidad inefable,
te vi endurecerte como un mármol, indecible realidad.
Prodigio cuyo nombre se me escapa, granito, para el cincel, inflexible,
felicidad compartida por el pájaro y por el agua que el perro bebe.
Secreto que hay que saber y callar, todo lo que dura es pasajero,
siento girar la tierra y el cielo de astros ligero.
Sonreíd, muertos bien acostados! Todo pasa y sin embargo dura,
las briznas de la verdura nacen del grano de las rocas negro. "

Marguerite Yourcenar

jueves, mayo 06, 2004

O Estudante Empírico

Todas as coisas têm nome.
(Têm nome todas as coisas?)

Todos os verbos são atos
(São atos todos os verbos?)

Com a gramática e o dicionário
faremos nossos pequenos exercidos.

Mas quando lermos em voz alta o que escrevemos
não saberão se era prosa ou verso,
e perguntarão o que se há de fazer com esses escritos:

porque existe um som de voz
e um eco — e um horizonte de pedra
e uma floresta de rumores e água

que modificam os nomes e os verbos
e tudo não é somente léxico e sintaxe.

Assim tenho visto.

Cecilia Meireles

domingo, mayo 02, 2004

Canción del Fuego Fátuo

Lo mismo que er fuego fátuo,
Lo mismo es er queré.
Le juyes y te persigue le yamas y echa a corré.
Lo mismo que er fuego fátuo, lo mismito es er queré.
Malhaya los ojos negros que le alcanzaron a ver!
Malhaya er corazon triste que en su llama quiso ardé!
Lo mismo que er fuego fátuo se desvanece er queré.

Manuel de Falla

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