<$BlogRSDUrl$>

Cada mirada estrena el mundo

martes, agosto 31, 2004

No podemos saberlo

No podemos saberlo. Nadie lo ha dicho.
Quizás allá no quede más que una red desfondada,
cuatro sillas de paja desflecadas y una galleta vieja
mordida de ratones. Es posible que Dios sea un ratón
y que corra a esconderse tan pronto nos vea entrar.
Y es posible que en cambio sea esa galleta vieja
mordisqueada y mohosa. No podemos saber.

Quizá Dios tiene miedo de nosotros y escape, y largamente
deberemos llamarlo y llamarlo con los nombres más dulces
para inducirlo a volver. Desde un punto lejano del cuarto
él nos mirará fijo, inmóvil.

Quizá Dios es pequeño como un grano de polvo,
y podremos verlo solamente al microscopio,
minúscula sombra azul detrás del cristalito, minúscula
ala negra perdida en la noche del microscopio,
y nosotros allí en pie, mudos, contemplándolo, en vilo.
Quizá Dios es grande como el mar, y lanza espuma y truena.

Quizá Dios es frío como el viento de invierno,
tal vez brama y retumba en un rumor que ensordece,
y deberemos llevar las manos a los oídos,
y agachados, temblando, replegarnos al suelo.
No podemos saber cómo es Dios. Y de todas las cosas
que quisiéramos saber, esta es la única verdaderamente esencial.

Quizá Dios es tedioso, tedioso como la lluvia
y aquel paraíso suyo es un tedio mortal.

Quizá Dios tiene anteojos negros, un echarpe de seda,
dos mastines a los flancos. Quizás use polainas
y está sentado en un rincón y no dice palabra.
Quizá tiene el pelo teñido, una radio a transistores
y se broncea las piernas en la terraza de un rascacielos.
No podemos saber. Ninguno sabe nada.
Quizá no bien lleguemos nos mandará al espacio
a comprarle pan, salame y una damajuana de vino.

Quizá Dios es tedioso, tedioso como la lluvia
y aquel paraíso suyo es la consabida música
un revolar de velos, de plumas, y de nubes
y un aroma de lirios y un tedio de muerte,
y cada tanto una media palabra para pasar el tiempo.
Quizá Dios es dos, una réplica de esposos
librados al sopor de una mesa de hotel.

Quizá Dios no tiene tiempo. Dirá que nos vayamos
y volvamos más tarde. Nosotros nos iremos de paseo,
nos sentaremos sobre un banco a contar trenes que pasan,
las hormigas, los pájaros, las naves. De aquella alta ventana
Dios se asomará a mirar las calles y la noche.

No podemos saber. Nadie lo sabe.
Es posible incluso que Dios tenga hambre y nos toque saciarlo,
quizás muere de hambre, y tiene frío, y tiembla de fiebre,
bajo una manta sucia, infestada de pulgas
y deberemos correr en busca de leche y de leña,
y telefonear a un médico, y quién sabe si a tiempo
encontraremos un teléfono, y la guía, y el número
en la noche demente, quién sabe si tenderemos suficiente dinero.

Natalia Ginzburg





lunes, agosto 30, 2004

Una mirada


La perdí de mi vida; en vano en los plurales
rostros, el fulgor busco de su fluido divino;
no hay copias de sus ojos; tan sólo un hombre vino
con ellas a la tierra; no hay pupilas iguales:

Redondo el globo banco, mundo que anda despacio;
y la pupila aguda, cazadora y ceñida;
y la cuenca de sombras por rayos recorrida.
(Pretextos de que nazca la llama y logre espacio.)

No más bellas que tantas otras bellas pupilas.
Tantas. Si las prendieran en desusadas filas,
como collar del mundo, serían su atavío.

Pero lo que adoraba no es lo mejor: yo busco
un modo de asomarse; el luminoso y fusco
resplandor de dos únicos orbes: lo que era mío.


Alfonsina Storni

domingo, agosto 29, 2004

Qualquer coisa de intermédio

Eu não sou um nem outro:
Sou qualquer coisa de intermédio
M. de Sá-Carneiro


Se eu fosse o outro,
o do chapéu macio e do bigode
eternizado em cúbico arremedo,
angústia dividida em tantas partes
e óculos redondos,
podia-te contar eu guardador e sonhos

Se eu fosse o outro,
o delicado e bêbedo génio de nós todos,
o que amou estranho e sabia dizer
coisas enormes numa pequena língua
e fraco império,se eu fosse aquele inteiro
ditado de exageros e exclusões,
falava-te de tudo em ingleses versos

E mesmo se não foi ele quem disse
(e podia até ser, que eram amigos
e o século a nascer arrepiava como já não
o fim) há razão nessa história do pilar
e do tédio a escorrer de um
para o outro

Ana Luísa Amaral

viernes, agosto 27, 2004


















Cidade

Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e as praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes e não vejo
Nem o crescer do mar nem o mudar das luas.

Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pelas sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes.

Sophia de Mello Breyner Andresen

miércoles, agosto 25, 2004

Belleza Mortal

En la selva verde
Un grande árbol
Con sus floridos parásitos.

FM

martes, agosto 24, 2004











DESPUÉS DE LA LLUVIA

En el atardecer, después de la lluvia,
el sol acariciaba las piedras de la antigua ciudad
de una especial manera,
con un profundo y triste y natural amor.

Y al mirarnos supimos que éramos conscientes
de aquel minuto prodigioso,
de aquella intensa belleza inestable.


ELOY SÁNCHEZ ROSILLO


lunes, agosto 23, 2004

Al revés

verso y
sentimiento
no son sinónimos
no son sinónimos
sentimiento
y verso

verso y
deseo
¿son sinónimos?
no lo veo
mas lo creo

FM

domingo, agosto 22, 2004

el tiempo pasa
y para esto no necesita
ningún pasatiempo

FM

sábado, agosto 21, 2004

Esta foi uma colaboração enviada pelo Antonio Carlos, uma amigo que ainda nao conhecemos...


ESCREVER


Seja pela dor, seja pelo amor,
Que não cabendo dentro do peito
Feito onda verdejante
Insuflada pelo vento sibilante
A transpor e se derramar
Muito além do obstáculo arfante:
Escrever é se expirar . . .

Não contente, oh,Musa, ainda ?
Deixe-me então te homenagear
Lua prateada, suave e linda
De sutis e noturnos dardos
Como chuva de raios a iluminar
Os corações mortais, doces bardos:
Escrever é se inspirar . . .

Inspiração, expiração,
Puro e vital movimento
Consubstanciam a respiração
Capturam o momento
Ir e vir, cíclica pulsação
Sonoro pensamento:
Escrever é sentimento . . .

Sejam estes sonhos meus ou teus,
Sigam teus passos o meu caminho
Ou teu quarto seja invadido pelos meus,
A tua mensagem no meu escaninho
Ou a minha imagem nos teus camafeus,
Te digo com todo meu carinho:
Escrever é um dom dado por Deus . . .

Antonio Carlos de Viveiros

viernes, agosto 20, 2004

"Quando a última árvore tiver caído

Quando o último rio tiver secado

Quando o último peixe tiver sido pescado

Vocês vão entender que dinheiro não se come."

Greenpeace

miércoles, agosto 18, 2004












Andy Warhol

martes, agosto 17, 2004

Eu, etiqueta

Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça até o bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordem de uso, abuso, reincidência,
costume, hábiot, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio intinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos de mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim-mesmo,
ser pensante, sentinte e solitário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana invencível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar, ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comprazo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas indiossicrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhavam,
e cada gesto, cada olhar,
cada vinco de roupa
resumia uma estética?
Hoje sou costurado, sou tecido,
sou gravado de forma universal,
asio de estamparia, não de casa,
da vitrine me tiram, me recolocam,
objeto pulsante mas objeto
que se oferece como signo dos outros
objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem,
meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.

Carlos Drumond de Andrade

lunes, agosto 16, 2004

Meu amor me ensinou a ser simples
Como um largo de igreja
Onde não há nem um sino
Nem um lápis
Nem uma sensualidade

Oswald de Andrade

sábado, agosto 14, 2004

Accidentes

Caer desde el sueño
hasta un día de piedra
donde el eco de la noche
no se alcanza

Sorprenderen ajenos rostros
alegrías desconocidas,
imposibles

Escapar en fragmentos de certezas
y con palabras diseñar la fuga
perfectamente inútil del espejo

Entender al minuto minucioso
sólo para llegara las horas ya desiertas

Andar a ciegas en hondos mediodías
tejiendo sombras
para después iluminarlas al acaso

Labrar cada derrota hasta su muerte

Renacer en el siglo que amanece
y al pie de la extinción

sembrar el riesgo

Blanca Luz Pulido

jueves, agosto 12, 2004










Man Ray






A noite

A noite
que apaga os verões
organiza o seu espaço
numa leve arquitetura
de sombra e de sonho.

A noite rompe a dura forma
de concreto e de mármore.
Vence a pura
prisão geométrica,
curva as linhas
desta cidade insensível.

A noite
vence esta cidade.
A noite
Ergue de novo as suas bandeiras
Traz esta pausa para o coração.

H.Dobal

miércoles, agosto 11, 2004

Você está tão longe
que às vezes penso
que nem existo
nem fale em amor
que amor é isto.

Paulo Leminski
Brasil

martes, agosto 10, 2004

Vamos falar sobre a existência da matéria,
que vai dos vidros coloridos de geléia
ao focinho resfriado das cotias.
As coisas que, apesar de visíveis, são mistério
como a camada de orvalho sobre os cemitérios
e as unhas geladas da mulher com frio
que ela arrisca a esconder em baixo do capote, em série
como uma aldeia de uvas nas mangas do Tibet
ou um cacho de dúvidas: açúcar ou lua no café?
Todas essas coisas que sem horário movimentam-se
como o balé dos ventos com chapéu nos grandes centros
até a insondável perseverança dos rios de formigas
e principalmente a corrida nupcial dos leopardos
porque o que move a matéria não tem nome,
e não tem forma, nem lógica, nem
previsão de tempo ou tema,
e deve ser alguma coisa parecida
ao que liga as palavras num poema.

Aclyse de Mattos


lunes, agosto 09, 2004

Ovelhas e Bibliotecas: Sofrimentos


É um certo tom que eu não sei derivar
como devia: uma transparência,
um esbatimento,a abstracção das coisas.
A ovelha a meio do campo, vista deste combóio,
sofre só dessa terrivel solidez: ovelha

O mesmo se passa com a minha cozinha, ou
um livro, ou uma emoção:
um assado bem feito pode superar
qualquer capítulo bem anotado,
o cheiro das cebolas é às vezes
mais transcendentedo que tantos caracteres
a que falta sal

Neste momento, está atrasado o combói
o,um inter-regional que pára nas estações todas,
mas há sol, e assim fico a conhecer
os apeadeiros portugueses, e talvez me sirvam
de poema mais tarde, e tenho o privilégio
de me comover com os seus tonsfloridos

Agora a linha é mais simples e estreita,
correndo, paralela, à Estrada Nacional,
uma linha de frase básica,
só com os elementos principais.
Mas, às vezes, a ovelha que a atravessa, secante,
dá-lhe uma certa vírgula romântica
É num tom desses que eu me sei mover:
no intermédio cruzamento
dos portões do real,
nas despensas do mundo

Essas em que guardo o resto dos temperos,
um ou outro feitiço
no Livro de Receitas

Ana Luísa Amaral

domingo, agosto 08, 2004

Kunstkamera

Como si yo misma fuese celda de mi cuerpo de postre,
las horas de espera esfuman la dulzura del formol.
El corazón continúa derritiendo a bocados
los latidos de nube para mi guiño simétrico:
manos en luna, cuánto te duelen los ojos de los otros.
Aquí los relojes respiran sin billete de vuelta.
Mientras, a lo lejos, una huella de cristal se conjuga.
Nadie llama a la puerta de mi casa de nieve.

Elena Medel

viernes, agosto 06, 2004

A pedra

a pedra como o fogo
com suas resinas e ramas
a pedra como o fogo
é um sonho
de pálpebras abertas.
O sonho é quando
no veludo íntimo da noite
fogo e pedra se sonham:
as pálpebras cerradas.

Hélio Pellegrino

miércoles, agosto 04, 2004





"In photography, the smallest thing can be a great subject"

Henri Cartier Bresson
Era uma vez

Era uma vez, mas eu me lembro como se fosse agora, eu queria ser trapezista.
Minha paixão era o trapézio, me atirar lá do alto na certeza de que alguém segura minhas mãos, não me deixando cair.

Era lindo mas eu morria de medo. Tinha medo de tudo quase, cinema, parque de diversão, de circo, ciganos, aquela gente encantada que chegava a seguia. Era disso que eu tinha medo, do que não ficava para sempre.

Era outra vez, outro circo, ciganos e patinadores.
O circo chegou a cidade era uma tarde de sonhos e eu corri até lá.
Os artistas, eles se preparavam nos bastidores para começar o espetáculo, e eu entrei no meio deles e falei que eu queria ser trapezista.
Veio falar comigo uma moça do circo que era a domadora, era uma moça bonita, forte, era uma moçona mesmo.
Ela me olhou, riu um pouco, disse que era muito difícil, mas que nada era impossível.

Depois veio o palhaço Poli, veio o Topz, veio o Diverlangue que parecia um príncipe, o dono do circo, as crianças, o público.

De repente apareceu uma luz lá no alto e todo mundo ficou olhando.
A lona do circo tinha sumido e o que eu via era a estrela Dalva no céu aberto. Quando eu cansei de ficar olhando para o alto e fui olhar para as pessoas, só ai eu vi que eu estava sozinha.

Antônio Bivar


martes, agosto 03, 2004

Regalo

Que en este mundo
Nada es verdad ni es mentira
Todo es según el color
Del cristal con que se mira

Ramón de Campoamor

domingo, agosto 01, 2004

Graça Ramos
Brasil












O círculo do tempo


Passam velas
ao vento
caravelas...

outras naus
outras gentes
singulares

hão de surgir
em fúlgido
horizonte

novos pedros
e outros vascos
(dos quais

marítimos
ou anfíbios
descendemos)

a navegar
sozinhos
noutros mares

e seguem
na onda
fria que não passa

e buscam
novas índias
e alcobaças

Marco Lucchesi

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Directorio de Blog Blogarama - The Blog Directory Listed on Blogwise Blogs México  Bitacoras.com blog search directory Listed in LS Blogs Eu estou no Blog List Web Blog Pinging 
Service
directorio de weblogs. bitadir
Literature blogs Top Blogs

<!-- the ageless project -->

BlogRankings.com
Search this site powered by FreeFind

referer referrer referers referrers http_referer